O dia em que Olegário aprendeu a dizer nao (ou se o Daniel pode, eu tambem posso)
Não, a vida não era perfeita. Mas pelo menos ele tinha sua noiva, Amélia. Era isto que Olegário pensava todos os dias ao acordar. Não que ele não agüentasse seu trabalho. Mas Olegário tinha poucas chances de crescimento. Seu temperamento o impedia de alçar vôos mais altos que o de subgerente. Além de tímido, não sabia dizer não. E, por isso, não tinha o menor poder de comando.
A primeira vez que Olegário foi promovido, seus subordinados não se subordinavam. Nem a caixa registradora o respeitava. Todo mundo vinha lhe pedir coisas (vales, uma saidinha que durava tardes inteiras, etc.). Assim, quem dizia “não” era o Gerente, não ele. Olegário, como subgerente, só "cumpria ordens”.
Também era assim na sua vida privada. Sua mãe, seus primos, amigos, viviam lhe pedindo favores – dinheiro, uma ajudinha aqui, outra acolá.
É..., a vida não era perfeita. Mas pelo menos ele tinha Amélia.
Amélia não lhe pedia nada. Só o amava com um amor terno e doce. Amélia era mulher de verdade. Tinha vaidade suficiente para se manter bonita, mas não tanta que a tornasse tola.
Um dia, ninguém sabe bem porquê, Olegário resolveu que ia aprender a dizer não. Pensava: É simples "eneaótil: não". E passaram dias... meses..
- Olegário será que você podia...?
- N... Nnnn... Tudo bem.
- Olegarinho meu amigo....?
- Hum... n.... nmnm... Claro!
Um domingo, Olegário acordou diferente. A madrugada foi agitada, com sonhos estranhos. Acordou suado. Se olhou no espelho e falou: É hoje. Meio tonto, sem entender direito o que fazia, pegou a roupa – que já estava separada em cima da cadeira, no canto do quarto, desde a noite anterior – como ele sempre fazia. Vestiu-se sentindo náuseas e uma estranha felicidade. Mal enxergava o mundo a sua volta. Ao sair de casa, alguém lhe pegou pelo braço. Nesse momento, Olegário ficou na dúvida se estava acordado ou se ainda estava dentro do seu sonho. Em pouco tempo estava em um lugar cheio de flores e de pessoas com umas caras conhecidas. Estranhamente, pessoas de todas as épocas de sua vida popocavam na sua frente. Pensou: acho que empacotei... Mas, não! Havia vida naquilo que ele sentia! Era hoje o dia. Ele ia conseguir. Uma voz que vem do fundo da sua cabeça começa a falar sem parar. O mundo não para de rodar. E a voz não se cala. E o cheiro de flores... De repente o silêncio. Tudo fica no mais completo silêncio. É a hora.
Olegário respira fundo e fala meio para dentro, meio sem pensar: não... NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOO.
O organista para com os dedos no ar entre o lá e o ré menor.
Amelinha, sua noiva, cai numa crise de choro convulsiva e todos em volta começam a cochichar como nos filmes de tribunal, quando sai o veredicto.
O padre faz o sinal da cruz mas Olegário está tão eufórico que nem percebe o que acabou de fazer. O rosto de Olegário teima em mostrar um sorriso abobalhado no canto esquerdo da boca.
O barulho das latinhas se arrastando é a única coisa que se ouve de dentro do Gol 93 que leva Amelinha desconsolada para casa dos seus pais.
E esta foi a última vez que Olegário disse não.
Sabe como é... traumatizou, coitado.
Não, a vida não era perfeita. E sem Amélia, ficou um pouco pior.
A primeira vez que Olegário foi promovido, seus subordinados não se subordinavam. Nem a caixa registradora o respeitava. Todo mundo vinha lhe pedir coisas (vales, uma saidinha que durava tardes inteiras, etc.). Assim, quem dizia “não” era o Gerente, não ele. Olegário, como subgerente, só "cumpria ordens”.
Também era assim na sua vida privada. Sua mãe, seus primos, amigos, viviam lhe pedindo favores – dinheiro, uma ajudinha aqui, outra acolá.
É..., a vida não era perfeita. Mas pelo menos ele tinha Amélia.
Amélia não lhe pedia nada. Só o amava com um amor terno e doce. Amélia era mulher de verdade. Tinha vaidade suficiente para se manter bonita, mas não tanta que a tornasse tola.
Um dia, ninguém sabe bem porquê, Olegário resolveu que ia aprender a dizer não. Pensava: É simples "eneaótil: não". E passaram dias... meses..
- Olegário será que você podia...?
- N... Nnnn... Tudo bem.
- Olegarinho meu amigo....?
- Hum... n.... nmnm... Claro!
Um domingo, Olegário acordou diferente. A madrugada foi agitada, com sonhos estranhos. Acordou suado. Se olhou no espelho e falou: É hoje. Meio tonto, sem entender direito o que fazia, pegou a roupa – que já estava separada em cima da cadeira, no canto do quarto, desde a noite anterior – como ele sempre fazia. Vestiu-se sentindo náuseas e uma estranha felicidade. Mal enxergava o mundo a sua volta. Ao sair de casa, alguém lhe pegou pelo braço. Nesse momento, Olegário ficou na dúvida se estava acordado ou se ainda estava dentro do seu sonho. Em pouco tempo estava em um lugar cheio de flores e de pessoas com umas caras conhecidas. Estranhamente, pessoas de todas as épocas de sua vida popocavam na sua frente. Pensou: acho que empacotei... Mas, não! Havia vida naquilo que ele sentia! Era hoje o dia. Ele ia conseguir. Uma voz que vem do fundo da sua cabeça começa a falar sem parar. O mundo não para de rodar. E a voz não se cala. E o cheiro de flores... De repente o silêncio. Tudo fica no mais completo silêncio. É a hora.
Olegário respira fundo e fala meio para dentro, meio sem pensar: não... NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃOOOO.
O organista para com os dedos no ar entre o lá e o ré menor.
Amelinha, sua noiva, cai numa crise de choro convulsiva e todos em volta começam a cochichar como nos filmes de tribunal, quando sai o veredicto.
O padre faz o sinal da cruz mas Olegário está tão eufórico que nem percebe o que acabou de fazer. O rosto de Olegário teima em mostrar um sorriso abobalhado no canto esquerdo da boca.
O barulho das latinhas se arrastando é a única coisa que se ouve de dentro do Gol 93 que leva Amelinha desconsolada para casa dos seus pais.
E esta foi a última vez que Olegário disse não.
Sabe como é... traumatizou, coitado.
Não, a vida não era perfeita. E sem Amélia, ficou um pouco pior.
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